A paz para a Ucrânia cabe na boca de muita gente.
Fica bem falar de paz - soa bem aos ouvidos. Falar de paz é coisa de gente de bem, e até de gente menos bem.
Enfim! Falar de paz é politicamente correto.
Pode-se mesmo afirmar que é muito fácil falar de paz – afinal de contas, são apenas três singelas letras.
O que se revela realmente difícil é encontrar as soluções certas para que a tão desejada paz seja alcançada e se torne duradoura.
Os líderes do Kremlin que na verdade são apenas um, já deixaram bem claro que estão disponíveis para iniciarem negociações de paz, - mas com a premissa das “novas realidades territoriais” – ou seja, para quem não tem o raciocínio enviesado, estas novas realidades correspondem aos territórios tomados pela força à Ucrânia - vulgo roubo de propriedade alheia.
É nesta base que os russos estão dispostos a sentarem-se à mesa das negociações, para vincular a dose de humilhação a impor ao povo ucraniano e ao mesmo tempo provar ao mundo inteiro que o direito internacional pode com toda a facilidade ser ignorado e desrespeitado.
Nalgumas bocas ocidentais onde a palavra paz abunda, - e cujos donos estão perfeitamente conscientes desta irredutibilidade russa, - parece não existir nenhuma palavra que contraponha esta evidência.
Ao que parece, acreditam que o caminho para a paz passa por aceitar a inevitabilidade de se reconhecerem os territórios ocupados como parte integrante da federação russa.
Como quem diz: Pronto! Fiquem lá com o Donbass e com a Crimeia e não se fala mais nisso. Mas o sr. Putin tem que assinar aqui um papelinho onde jura pela sua honra que NUNCA MAIS invade ninguém. (promessa semelhante algures na história…). Aqui em letras pequeninas, também ficará escrito que o exército ucraniano se resumirá a meia dúzia de gatos pingados, armados com espingardas que nem sequer disparam, - não vá o sr. ou outro qualquer que o seguirá, mudar de ideias.
Ou seja, estes arautos da paz, à falta de melhor solução, compram a paz para a Ucrânia com o produto de um roubo.
Alguns, chegam mesmo a se indignar com quem afirma que a federação russa tem que sair derrotada deste conflito.
Não entendem bem ou disfarçam mal, que uma vitória da federação russa significará, não só a legitimação de inúmeras violações do direito internacional, mas igualmente a abertura de um perigosíssimo precedente. Isto para já não falar na impunidade concedida aos crimes de guerra, às deportações e às inúmeras barbaridades cometidas pelo exército de Putin.
Enquanto filosofam com a palavra paz, desprezam a história, - concretamente com os fatos ocorridos durante e depois da ocupação da Crimeia.
A mesma paz fictícia que tentaram alcançar nessa altura, é em tudo semelhante à forma de paz que tão facilmente deixam agora sair da boca.
O resultado foi o que se viu. E o resultado de entregar de mão beijada outra parte da Ucrânia ao invasor e usurpador, é ainda mais fácil de adivinhar, do que quanto é fácil abrir a boca e falar em paz.
Esta paz das boas intenções, é no mínimo, fruto da incapacidade perante a complexidade e no máximo, o reflexo da imoralidade dos vendidos.