Nesta madrugada somam-se 365 de guerra na Ucrânia.
Depois de em 2014 invadir e tomar posse da Crimeia, território ucraniano, e iniciar uma guerra de atrito e sabotagem na região do Donbass ucraniano, a Federação Russa deu início a uma invasão militar em larga escala na Ucrânia.
O resultado desta agressão traduz-se em centenas de milhares de mortos e feridos entre a população civil, centenas de casos de tortura e de execuções sumárias perfeitamente identificadas e documentadas por várias organizações internacionais, mais de 14 milhões de desalojados dentro e fora da Ucrânia, dezenas de milhares de cidadãos ucranianos deportados para território russo, e a mais completa destruição de estruturas civis em vastas regiões do país.
Estes são os factos indesmentíveis e incontornáveis que ficarão na história das primeiras décadas do século XXI, e que independentemente das mais variadas opiniões de políticos, de analistas e do público em geral, ficarão registados para memória futura.
De certos setores da sociedade ocidental, surgem alguns saudosistas do regime soviético, que olham para Vladimir Putin e para o seu regime como a reencarnação do velho império soviético. Tal como Putin, sentiram a derrota da utopia marxista e mal digeriram a queda da URSS.
Apesar das diferenças entre os dois regimes, veem no regime do Kremlin o oponente mais agressivo ás sociedades democráticas do ocidente e particularmente aos EUA. Isso basta-lhes, para justificar o injustificável e para tolerar o intolerável.
Desvalorizada esta corrente minoritária de opinião, prevalece o sentimento geral de que esta agressão constitui uma autêntica vergonha.
Mesmo no resto do mundo, particularmente na Índia e na China - considerando que as posições dos respetivos governos, são representativas de compreensíveis interesses geopolítico dos mesmos, - a população comum, com exceção daqueles que por razões várias se abstêm de dar a sua opinião, encara este conflito como algo, no mínimo desnecessário e injustificável.
Nos primeiros dias de guerra, escrevi um texto onde considerei que a derrota militar de Putin e da Federação Russa tinha começado exatamente no primeiro dia da invasão. Passado um ano, acredito que tal tendência não se inverteu, apesar dos avanços e recuos da linha da frente.
No campo de batalha as perdas humanas e de material têm sido gigantescas para ambos os lados, contudo, o oponente que está na defensiva leva vantagem sobre quem procura ganhar terreno.
Os militares ucranianos, ao contrário do passado de 2014, encontram-se agora bem treinados e substancialmente melhor equipados. Conhecedores do terreno, e com a extrema motivação de quem defende a sua pátria, têm conseguido reter o gigantesco exército russo na sua ofensiva, conseguindo até recuperar alguns territórios antes anexados.
Enquanto que a linha da frente pouco tem oscilado, as forças russas que supostamente deveriam ter ganho a guerra em poucas semanas, enfrentam aquilo que nunca sonharam enfrentar e as poucas vitórias alcançadas têm tido um preço insustentável em baixas e em material.
Da Federação Russa têm fugido centenas de milhares russos. São aqueles que, ou por medo de serem recrutados para a guerra, ou por simplesmente não suportarem mais o quotidiano da sociedade russa, abandonam o país deixando para trás os que sem outra alternativa se mantêm submissos ao regime opressor, e os outros que declaradamente o apoiam.
Estes últimos, consideram Vladimir Putin como sendo o verdadeiro herói da Rússia, digno sucessor de outros líderes que no passado garantiram que o seu país não se contentasse em ser apenas isso, um país. Para estes, é necessário a existência de um líder suficientemente forte que garanta que a Rússia seja um império, - nem que para isso se concretizar, tenha que pela força das armas submeter os vizinhos à sua autoridade e ao seu domínio.
Apesar de ser um facto que alguns pretendem negar, os efeitos das sanções já fazem grande estrago na economia russa. Os lucros com as exportações de hidrocarbonetos russos decaíram consideravelmente e as vendas a países como a China e a Índia não conseguem equilibrar a balança.
Manter esta guerra tem tido um peso brutal sobre as reservas russas, tanto em termos financeiros como em material de guerra. É um preço que a médio prazo se vai tornar insustentável para a economia Russa.
Para além das fronteiras da Federação Russa, o regime do Kremlin vê agora alguns dos seus vizinhos ora sendo mais parte da NATO, ora estando mais perto da esfera de influência chinesa.
Depois de décadas de desinvestimento militar, a Europa entra numa nova era de produção de armamento e revê profundamente a sua política de defesa comum.
Findada a guerra fria, a Europa viveu um período de desenvolvimento onde os recursos outrora orientados para o campo da defesa militar, foram sendo aplicados em políticas de desenvolvimento económico e social.
Em sentido contrário, Putin, criou uma ideia falsa entre o povo russo, onde a proximidade de regimes democráticos junto das fronteiras da Federação Russa, constituía uma ameaça à segurança nacional.
A realidade mostrou exatamente o contrário. De entre todos os países antes pertencentes ao Pacto de Varsóvia, sendo ou não membros da NATO, nenhum sequer equacionou, e muito menos concretizou qualquer agressão à nação russa. Já o contrário, está à vista de todos desde que Vladimir Putin assumiu o poder.
Há um ano atrás, os russos eram fortes parceiros económicos das grandes economias europeias - Hoje, a palavra de ordem dos governos destes países é a de que o regime do Kremlin se tornou uma ameaça à segurança europeia e que a sua derrota neste conflito se tornou imperativa.
Mesmo com todas as hesitações por parte dos dirigentes dos países da NATO, cada vez mais se acentua o esforço conjunto para fornecer à Ucrânia os meios não apenas para se defender, mas sim para conseguir derrotar o exército russo.
Um ano depois, a grande questão que se coloca não é se a Federação Russa sairá derrotada ou não do conflito – A questão é saber quando isso ocorrerá.
E quando essa resposta for obtida, questão maior se colocará: O que será da maior potência nuclear do planeta depois do rescaldo da derrota?
Neste momento, Putin trava uma luta não contra o povo ucraniano, mas sim contra o seu próprio povo e pela sua sobrevivência política. Quando o seu exército sair derrotado no campo de batalha da Ucrânia, será também o fim da era de Vladimir Putin.
Os russos não suportam líderes derrotados em conflitos militares, e a história faz-lhes jus.
Enquanto isso, os ucranianos insistem na ideia por alguns tanto contestada:
Preferem morrem de pé do que viver de joelhos.
Entre a vergonha e a honra, a história não nos esquecerá.