02.04.22
Para glória do Sr. do Kremlin e de parte do povo russo, que em consciência o apoia, o número de vítimas civis nesta guerra não deve diferir muito do número de baixas militares entre o exército ucraniano.
Para além destes trágicos números, há que acrescentar os milhares de mortos e feridos nas forças russas. Estes, são soldados que na sua generalidade, são provenientes de famílias humildes, oriundas dos confins do território da Federação Russa, regiões onde a informação não chega nem tão pouco sai.
Na prática, são todos eles, soldados desconhecidos. Usando a terrífica expressão: Foram carne para canhão. Mártires de uma guerra que nunca foi a deles. Os saldados nunca têm guerras, são empurradas para elas por políticos que são essencialmente inaptos para a função, pois se assim não fossem, não recorriam à guerra sob qualquer pretexto mais ou menos verdadeiro que apresentassem.
Já são mais de 150 crianças mortas, mais de 250 feridas, milhares de órfãos, milhões de desalojadas expulsas da sua própria terra. Até agora, foi esta a única vitória do Sr. do Kremlin e dos seus apoiantes - todos eles cumplicies, todos eles culpados, todos eles com as mãos manchadas do sangue destas crianças.
Os alvos preferenciais dos infames, são hospitais, escolas, jardins de infância, maternidades e habitações. Tem havido bombardeamentos constantes em áreas onde não existem estruturas militares num raio de quilômetros. Não se trata de danos colaterais, tratasse de uma estratégia concertada de atingir alvos civis.
Desde o início da invasão, a popularidade de Vladimir Putin subiu 10%. Estas medições de popularidade, efetuadas na Federação Russa, estão inquinadas pelo mal nacional: A mentira. Todos ouvimos por estas semanas o termo: Maskirovka – Trata-se de uma expressão russa que define algo que é mascarado ou disfarçado – este é um lugar-comum na Rússia, o engano.
A esmagadora população russa é enganada. Seja por falta de informação, seja pelo efeito da máquina de propaganda do regime, o povo russo vive uma ilusão. Não têm termo de comparação. O único existente, são as recordações que têm da época soviética e do caos pós queda desse regime. Putin surgiu como o pulso forte que iria reformar o país e conceder-lhe o antigo estatuto de super potência, recuperando assim o orgulho nacional da população.
O resultado foi um país atrasado em inúmeros setores da sociedade e da economia. Governado e controlado por um conjunto de oligarcas corruptos que tomaram de assalto a economia russa sem que com isso algo de substancialmente proveitoso resultasse para a povo. A miséria é muito fácil de ser comprada. Bastou a promessa de devolver à russa a glória do passado e distribuir algumas migalhas pelo povo, para que este acreditasse que o futuro iria ser promissor. O problema é que nunca tiveram nem têm acesso ao bolo, apenas às migalhas.
Com tanta gente enganada e com tantos outros amordaçados pelo medo, os resultados destas inquirições à população são sempre enviesados - E o seu duvidoso resultado, ele mesmo contribui ainda mais para uma galvanização popular em volta de um líder supostamente popular. O povo é levado pela tentação de acreditar em que quando tantos apoiam algo ou alguém, então é por que isso é válido e por conseguinte deve ser igualmente apoiado. A propaganda atinge o seu objetivo supremo: A manipulação das massas.
Restam dois grupos: os que saem do país, e estes já ultrapassam o meio milhão desde o início da guerra; e os que em consciência apoiam o regime - Os nacionalistas e militaristas que estão incondicionalmente ao lado de Putin – e são muitos. Todos estes, são tão responsáveis, tão criminosos e tão infames como o seu líder. Todos estes têm que ser alvo da comunidade internacional, que através dos meios adequados os deve responsabilizar e punir. Que as sanções não abrandem, pelo contrário, que sejam intensificadas.
Esta guerra é um crime contra a humanidade. Não só um crime para com o povo ucraniano, mas também uma agressão às consciências daqueles que se recusam aceitar que não se faça justiça perante tanta barbaridade. É importante não nos deixarmos cair na tentação de que o ódio nos invada, mas é fundamental não deixarmos que o sofrimento dos inocentes seja banalizado com o passar do tempo.
Todos nós perdemos também estas 150 crianças. Não vamos também perder a dignidade abdicando da nossa obrigação de não nos calarmos. Todas elas morrerão em vão. Que em vão não fique igualmente o nosso comportamento.