15.05.22
Emmanuel Macron continua a insistir que é necessário encontrar uma solução para o conflito na Ucrânia onde Vladimir Putin não perca a face nem a Federação Russa seja humilhada.
Ao que parece, o presidente francês ainda não vislumbrou que tanto Vladimir Putin como a Federação Russa, aos olhos da esmagadora maioria de países do mundo, já perderam a face e estão a sofrer um processo de humilhação generalizado.
Nem é necessário referir as constantes derrotas de que o exército russo tem sofrido no terreno. O sistema bancário da Federação Russa foi excluído quase na totalidade do sistema internacional bancário; as grandes marcas de multinacionais abandonaram o mercado russo; os bens de centenas de empresários russos foram confiscados nos principais mercados mundiais; as companhias aéreas internacionais deixaram de operar no espaço aéreo da Federação Russa. A ONU expulsou a Rússia do Conselho de Direitos Humanos.
Se esta realidade não corresponde à perda da face dos dirigentes do Kremlin e a uma humilhação do país, não sei o que será mais necessário acontecer para negar esta evidência.
O que o Sr. Macron parece estar a propor é que se evite a total humilhação de Putin em troca da humilhação do povo ucraniano. Gostaria de poder entender qual o critério usado pelo presidente francês para medir o grau de humilhação que um indivíduo e por outro lado, um povo inteiro, conseguem suportar.
Pelos vistos o Sr. Macron tem muito receio sobre as consequências de uma possível derrota de Putin na guerra da Ucrânia. Será que igualmente receia quais as consequências se Putin obtiver uma vitória?
De invasão em invasão, Putin tem vindo a usurpar a terra alheia sem que nenhum líder ocidental tenha feito absolutamente nada para o confrontar. Até a Crimeia foi anexada sem que Putin fosse enfrentado. O único a enfrentá-lo foi o povo ucraniano quando sentiu que não se tratava apenas da Crimeia e da região do Donbass, - era a sua própria soberania e independência que estavam em risco.
Interrogo-me, se esta coragem dos ucranianos não tivesse sido tão extraordinária, será que a ajuda internacional teria chegado? Sem esta coragem e sem a inoperacionalidade do exército russo, Kiev teria sido tomada em 3 dias e, - ato consumado, - tal e qual como na Crimeia.
Foi esta a coragem que chamou a atenção das opiniões públicas que levaram às pressões junto dos governos. É esta a coragem que não vende barato nem a dignidade nem a liberdade. É esta a coragem que não vai permitir que o Sr. Macron negocie com o criminoso de guerra do Kremlin a humilhação de um povo que se nega a entregar a sua terra ao invasor.
A única solução para este conflito é a completa e total derrota de Putin. Cada centímetro de território ucraniano terá que ser libertado do exército russo. Se tal não acontecer abrir-se-á um precedente em solo europeu do qual ninguém conseguirá prever quais as reais consequências.
Os líderes ocidentais devem se concentrar em derrotar Putin o mais rapidamente possível, e isso passa no imediato por lhe infligir uma derrota na Ucrânia.
Pior que recear quais as consequências disso, será não perspectivar o que virá depois de Putin. Por morte natural ou por afastamento político, Putin terá o seu fim. Com uma vitória ou com uma derrota na Ucrânia, o futuro da Federação Russa passa pelo sucessor de Putin. Por aquilo a que temos assistido as opções são no mínimo preocupantes.
A derrota de Putin, não representará apenas a forma de o parar, será igualmente uma mensagem para quem o substituir. Uma prova de fraqueza no presente, será a exposição a uma ameaça igual ou pior no futuro. Se nos vergarmos agora, a ameaça nuclear que já paira no ar, continuará a pairar no futuro.
O mundo mudou mesmo na madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022, e enquanto tivermos esta Rússia, a ameaça do holocausto nuclear já é, e vai continuar a fazer parte desta nova realidade, independentemente do desfecho nos campos de batalha da Ucrânia.
Enquanto isso, o povo Ucraniano não está disposto a considerar que as mortes dos seus mártires foram em vão, que a humilhação da capitulação é opção e que não farão o papel de ser moeda de troca para a obtenção de um qualquer equilíbrio geopolítico. Presidentes ou simples cidadãos, quem somos nós para os julgar?