25.03.25
No luxo próprio das mil e uma noites, americanos e russos presentes nas conversas (menos que conversações e ainda menos que negociações) a decorrer na Arábia saudita, procuram alcançar objectivos distintos na questão ucraniana.
No lado americano, os seus representantes - cuja experiência em geopolítica e em conflitos internacionais é praticamente nula - trazem uma ordem expressa do chefe Trump que se traduz essencialmente por alcançar o fim do conflito o mais depressa possível - de preferência para a próxima semana.
Este nobre ensejo de alcançar a paz (seja ela em que moldes for), é fruto da necessidade expressa de Trump em emergir desta crise como aquele que conseguiu aquilo que nem Biden nem os líderes europeus conseguiram. É a versão moderna do bom samaritano.
Para Trump, a soberania ucraniana e a dignidade do seu povo são secundárias. O que verdadeiramente lhe interessa é agradar a putin na esperança que este se afaste da China e com a mesma cajadada arrebanhar o mais que puder das riquezas da Ucrânia. E isto tem urgência, pois o homem tem mais que fazer do que se preocupar com um país cuja localização geográfica ele conhece apenas recentemente - afinal trata-se do líder de um povo que tem como pergaminhos, entre outros, a ignorância generalizada.
Já para os russos - quero dizer, para putin e para mais uma dúzia de elementos do FSB - o grande objectivo é empatar a coisa. Ou seja, enquanto as conversas se eternizarem, mais mísseis serão fabricados e lançados sobre a Ucrânia. Para a seita do Kremlin, enquanto China e Índia comprarem gaz e petróleo, haverá dinheiro para fabricar e comprar material de guerra tanto ao Irão como à Coreia do Norte.
Este ciclo só terminará com a queda do regime russo o que é algo muito pouco provável nos próximos tempos. Entretanto putin não irá ceder em nada, pelo contrário, vai, com a ajuda de Trump, roubar ainda mais.
No meio deste jogo, a Ucrânia e os ucranianos, continuam a resistir, recusando-se a capitular, pois como eles próprios afirmam, só têm aquela terra. Outros no seu lugar, provavelmente já teriam entregue o seu país e a sua dignidade. Não é para todos, é só para aqueles que para além da coragem têm vergonha na cara, preferindo morrer de pé do que viver de joelhos. A Europa que temos hoje, fará agora 80 anos, foi reconquistada por gente desta fibra.
Tenho esperança que esta mesma Europa, se levante do seu confortável sono e acorde rapidamente. Deixar cair a Ucrânia será uma vergonha da qual nos arrependeremos amargamente.