21.03.22
Esta guerra começou em 2014 com a anexação da península da Crimeia, território da Ucrânia, por parte da Federação Russa. Em resultado disso, o Presidente Vladimir Putin, obteve o maior índice de aprovação por parte do povo russo. Isto significa que Putin recebeu da parte do seu povo, um prémio político por ter roubado parte de um território a um país soberano.
Isto aconteceu na Europa em pleno século XXI, e o povo russo aplaudiu. A comunidade internacional manifestou o seu desagrado, condenou e aplicou algumas sanções à Federação Russa. O resultado foi nulo. A Ucrânia tinha acabado de ser espoliada de uma região do seu país e pouco ou nada podia fazer em relação a isso.
A população russa aplaudiu e deu força ao seu presidente. Afinal de contas a generalidade da população sentia que a Crimeia sempre tinha sido russa e forçosamente continuaria a sê-lo. O povo russo venera e glorifica os seus líderes vitoriosos, e agora tinha um que correspondia exatamente ao padrão russo.
Putin sentiu essa força e avançou para a região do Donbass. Agora era a leste que a soberania da Ucrânia era novamente ameaçada. Desta vez a reação ucraniana foi mais forte e o conflito na região arrastou-se até ao dia 24 de fevereiro de 2022. Por variadas razões, Putin fortalecido e convencido do timing certo, lançou então uma invasão em larga escala no restante território ucraniano.
Tal como na Crimeia, Putin saiu reforçado politicamente; nesta nova guerra, (ou continuação da mesma), Putin não pode agora sair fragilizado aos olhos do povo russo. Os russos desprezam líderes fracos e perdedores, estão habituados exatamente ao contrário. O cenário de negociação em que os ucranianos, cedam apenas os territórios correspondentes às auto-proclamadas repúblicas independentes de Donetsk e Lugansk, está completamente posto de parte por parte do Kremlin.
Como é que Putin iria justificar perante o seu povo que depois de juntar 130.000 homens para invadir a Ucrânia, muito para além do Donbass, para já não falar das baixas sofridas, (mesmo sabendo os russos nem da missa metade), como é que depois de tudo isto, o prémio seria apenas duas pequenas porções de território, sem qualquer tipo relevante de riqueza ou de interesse estratégico?
Se isto acontecesse, Putin seria visto como um perdedor, como um falhado, como alguém que não tem condições para dirigir a grande mãe Rússia. Seria o fim político de Vladimir Putin. É por esta simples, mas tão importante razão, que o cessar fogo só será obtido quando uma parcela significativamente grande do território ucraniano estiver nas mãos russas e com o respetivo acordo de compromisso assinado por ambas as partes.
Mesmo se metade do território ucraniano for conquistado, a Ucrânia continuará a ser um grande país e os argumentos apresentados pelo Kremlin para justificar esta invasão, virão a ser os mesmos para justificar a conquista do que restar da Ucrânia. Mais tarde ou mais cedo. Se ninguém o deter, Putin só parará quando toda a Ucrânia voltar a fazer parte do império russo. A questão que se porá a seguir será esta: Será que ele vai parar aí?