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A Política somos nós

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29.04.22

Desde o dia 24 de Fevereiro de 2022, data da invasão da Ucrânia por parte do exército da Federação Russa, que vários analistas e comentadores se têm escusado a fazer comparações históricas sobre os atuais acontecimentos e aqueles que deram origem ao início da segunda grande guerra mundial.

Invocando o princípio de que a história não se repete e que as circunstâncias e os atores são diferentes, preferem analisar esta crise de forma distinta e única.

A reação do comum cidadão mais ou menos atento ou interessado nos fatos históricos quando se coloca este tipo de comparações, é a natural rejeição da ideia de que algo tão terrível como a última grande guerra possa de alguma forma se repetir num cenário e antecedentes semelhantes.

Apesar de me conter no que diz respeito a comparações, não consigo evitar vislumbrar um certo paralelismo entre os antecedentes e as motivações que envolvem este conflito e o início da segunda grande guerra.

Senão vejamos: Apesar de a data oficial para o início da segunda grande guerra ser o dia 1 de Setembro de 1939, a origem do conflito previamente germinava numa região da Europa central conhecida como os Sudetos.

Na verdade, o termo Sudetos, refere-se às populações germanófonas que habitavam os territórios da Boémia, da Morávia e da Silésia. Este termo foi adotado a partir do século XX para designar estas regiões como uma só considerando a questão das populações de alemães Sudetos. Depois do final da primeira grande guerra, esta região passou a fazer parte integrante da então designada Checoslováquia.

Mesmo antes da formação da Checoslováquia, os Sudetos que constituíam cerca de 35% da população da Boémia, já aspiravam à autodeterminação, e à união com austríacos e alemães com o intuito da formação de um único estado. Quando em 1933 Hitler é eleito chanceler da Alemanha, já tinha sido formado na Checoslováquia o partido alemão dos Sudetos - inicialmente tinha apenas pretensões autonomistas, mas esta pretensão evoluiu para o desejo de anexação por parte do Estado Alemão.

As concessões feitas por Praga não foram suficientes para evitar que em Setembro de 1938 no ultimato feito por Hitler, fossem impostas as condições do terceiro Reich referentes à questão dos Sudetos que resultaram no acordo da conferência de Munique.

Nessa conferência, no dia 30 de Setembro de 1938, foi assinado um acordo entre Alemanha, Itália, Reino Unido e França onde ficou decidido a entrega do controle da região dos Sudetos à Alemanha. Não foi permitida a presença dos dirigentes checos durante o desenrolar da conferência, tendo sido o acordo definido à total revelia dos mesmos. Na atual República Checa ou Chéquia, a conferência de Munique é conhecida como a “Sentença de Munique”.

O grande objetivo deste acordo por parte do Reino Unido e da França, era conter o ímpeto bélico e expansionista de Hitler e conseguir a paz numa Europa onde as memórias do primeiro grande conflito mundial eram ainda recentes e traumáticas.

Depois da anexação concedida pacificamente por parte dos austríacos e agora com a obtenção da região dos Sudetos, Hitler prometia que não reivindicaria mais nenhum território europeu. Ainda hoje se questiona se o primeiro ministro inglês Chamberlain, simplesmente se deixou enganar por Hitler, ou se por outro lado, ele próprio consciente da inevitabilidade da guerra, assinou o acordo numa tentativa de ganhar tempo e com isso preparar o seu país e os aliados para o conflito eminente.

A ocupação dos Sudetos resultou na expulsão dos habitantes checos dessas regiões. Em poucas semanas, a Checoslováquia. perdeu mais de 40 mil km2 e mais de 4 milhões de habitantes. A Checoslováquia. perdia igualmente as suas defesas militares sendo que as linhas defensivas ficaram sob o controle do Reich, - em resultado disso, a independência do país ficou em sério risco.

Em Março de 1939 Hitler viola o acordo assinado seis meses antes, e o exército nazi invade o restante território da Checoslováquia. Apesar disso, tanto o Reino Unido como a França não realizaram nenhuma ação concreta, para além da mobilização das suas tropas.

Depois de em Agosto de 1939 a Alemanha nazi e a União soviética terem assinado um tratado de não agressão, no dia 1 de Setembro de 1939 os exércitos da Wehrmacht invadem a Polónia dando início à segunda grande guerra mundial. No dia 17 do mesmo mês, o exército vermelho invade igualmente o território polaco. No tratado de não agressão assinado entre Hitler e Stalin, tinha ficado acordado a partilha da Polónia.

Hitler tinha assim evoluído do falso pretexto de proteger as populações germanófonas conhecidas como Sudetos, para a sua verdadeira pretensão na Europa, expressa na frase que ele próprio mais tarde proferiu: “O espaço vital do povo alemão”.

As atuais circunstâncias e os seus atores não são exatamente iguais, mas certamente não serão totalmente diferentes. O erros do presente podem ser evitados analisando os erros do passado.

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