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A Política somos nós

A Política somos nós

17.03.22

Todos os tiranos megalómanos, sofrem de uma infindável fobia de serem ameaçados e de perecerem às mãos dos seus inimigos, reais ou imaginários. Seja nos seus palácios ou nos seus bunkers, a morte que tanto espalham assombra-os quando todas as noites encostam a cabeça. Para eles, ao virar de cada esquina estará um inimigo para os eliminar. Os inimigos declarados serão com certeza os seus carrascos, e os amigos invariavelmente tornar-se-ão seus inimigos. A estes tiranos, muitas vezes a loucura chega primeiro do que a morte. 

Putin vive com a fobia que o mundo ocidental vai destruir a Rússia. O trauma do povo russo com o enorme sofrimento passado na segunda grande guerra serve a Putin para mobilizar o povo nesta paranoia antiocidental. Afirma que o ocidente quer dominar o mundo e que a Federação Russa é o grande alvo a abater. Se não fosse apenas um rufia arrogante, e sim um estratego político com a visão necessária para liderar um país como o seu, prestaria mais atenção ao seu vizinho a sudeste. 

Este vizinho que pacientemente tem vindo a trilhar o caminho que o levará à posição de primeira potência mundial, posição essa que será alcançada nos meados deste século. Se Putin espera que a China vai ser a sua fiel aliada para derrubar o ocidente, está tão enganado como estava Stalin quando assinou com Hitler um pacto de não agressão já em plena segunda grande guerra. A China não tem aliados nem faz alianças. Vai apenas gerindo com mestria as suas zonas de influência. 

Esta guerra serve os seus interesses de duas formas: Desvia a atenção da NATO da região do Indo Pacifico e enfraquece a Rússia que é um vizinho com quem partilha 4 mil km. de fronteira e cujos líderes são historicamente demasiado belicistas e altamente imprevisíveis. Isto para já não falar nas questões económicas. Se neste momento o ritmo de crescimento da China desceu consideravelmente, isso é algo da qual ela recuperará rapidamente; principalmente a comprar à Federação Russa petróleo e gás a preços de saldo. Aquele petróleo e gás que a Europa vai nos próximos anos deixar de comprar. 

Por outro lado, à China também não lhe convém uma Federação Russa completamente de rastos. Essa circunstância, daria espaço e tempo ao ocidente para se concentrar mais na disputa com o grande adversário chinês. É por esta razão que a China mantém uma posição dúbia neste conflito. Posição que só abandonará se houver uma escalada que de alguma forma fira os seus interesses para além daquilo que ela considere aceitável. A China prefere tirar partido do que tomar partidos. 

Ouço alguns comentadores afirmar que Vladimir Putin tem que ter uma porta de saída nesta situação. Na verdade, nos últimos 20 anos, o ocidente abriu todas as portas para que a Federação Russa e o seu líder fizessem parte integrante da comunidade internacional com todos os direitos que todas as outras nações têm. Apesar das atrocidades cometidas pelo regime soviético, a Federação Russa é membro com direito de veto no conselho de segurança da ONU, e até há poucos dias esteva representada no Conselho Europeu; além disso, estabeleceu relações comerciais privilegiadas com as maiores potências europeias.  

Porque razão é que as portas devem se manter abertas a um país que vergonhosamente viola todas as regras do direito internacional, martirizando um povo soberano e inocente? 

Qual a razão para deixar uma porta aberta para o Sr. Putin poder sair airosamente desta catástrofe que ele mesmo criou? Até quando teremos que deixar impune os seus crimes? Será que ele se zanga por ser encurralado? Vai premir o botão atómico por ter que admitir a derrota e sair da Ucrânia como um derrotado? Será que teremos que lhe colocar uma coroa de louros e desenrolar o tapeto vermelho até ao Kremlin? Talvez fanfara e um - não se fala mais nisso. 

Putin e a sua corte de assassinos, vão ter que pagar pelos milhares de civis mortos e feridos. Pelas grávidas e os seus bebes mortas a sangue frio, pelos velhos abatidos a tiro nas filas do pão, pelas viúvas e pelos órfãos, pelas famílias separadas, por todos aqueles que tiveram que abandonar a sua terra para salvar as vidas. Vão ter que pagar pelo sofrimento inimaginável infligido aos inocentes de uma guerra bárbara, suja e imperdoável. Que a eles se fechem todas as portas. 

Seja qual for o desfecho para esta abominável realidade que se vive por estes longos e intermináveis dias na Ucrânia; as gerações vindouras, tanto de ucranianos como de russos vão carregar a herança desta guerra. Para uns será uma herança de trauma e de dor, pois nem uma possível vitória apagará da memória tempos tão negros.  

Para os outros será a vergonha, o estigma, o olhar de reprovação e de desconfiança que terão que ver estampado nos rostos daqueles que tanto ofenderam. Mesmo aqueles russos que não pactuaram com esta infâmia pagarão injustamente pelos erros dos seus conterrâneos. A história dos povos não esquecerá esta Rússia do século XXI. 

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