28.10.22
Nos últimos meses tenho frequentemente lido expressões como: "esta guerra não é nossa" ou "esta não é a minha guerra".
Na minha opinião, tais expressões refletem entre outras coisas, o chamado efeito de proximidade.
Temos a tendência para maximizar e valorizar aquilo que fisicamente nos é próximo, e de certa forma desvalorizar aquilo que nos é distante.
Perante um cataclismo na Índia onde morreram milhares de pessoas, quedamos mais a nossa atenção e as nossas emoções na chegada da ambulância que veio socorrer o vizinho do quinto esquerdo vítima de uma qualquer enfermidade.
Quando em 24 de Fevereiro a Ucrânia foi alvo da invasão militar por parte da federação russa, o choque não deixou de ser generalizado, porém, as verdadeiras preocupações nacionais começaram quando os preços dos combustíveis e da energia começaram a disparar.
O egoísmo e a tacanhez, faz crer a alguns que esta guerra não é a deles. Outros poderão contrapor que o aumento dos combustíveis não é problema deles pois em vez de ocuparem um lugar apenas no seu automóvel enfrentando intermináveis filas, preferem usar os transportes públicos.
Esta guerra é incontornavelmente de nós todos, pois a todos afeta.
Uns alvitram que a mesma terá que ter uma solução política sem, contudo, explicarem os termos da paz.
Ou será a paz podre fruto da cedência de território ucraniano à federação russa, o que resultará apenas num cessar fogo temporário e precário, mas que fatalmente evoluirá para um conflito interminável; ou será a paz impossível, baseada na cedência por parte de Putin com a consequente retirada de solo ucraniano. Putin nunca negociará esta paz.
Esta guerra assim como todas as outras, materializa a ganância e a sede de poder dos homens, e todos nós, pacifistas ou belicistas; a favor de Putin ou contra ele; mais ou menos egoístas; mais ou menos solidários, estamos direta ou indiretamente envolvidos nela.
Fisicamente circunscrita na "longínqua" Ucrânia, esta guerra já é global pelo seu efeito destrutivo nas sociedades mundiais.
Todos viveremos as próximas décadas num mundo muito diferente daquele que conhecemos, pois seja qual for o desfecho do conflito, este semeou uma semente de ódio e de desconfiança entre os homens e as nações.
Não há ideologia nem tomada de posição que nos defenda ou que permita o alheamento desta nova realidade.
Todos fazemos parte desta história e será a história que nos recordará pela postura que assumimos numa guerra que é de todos nós.