27.05.22
Na madrugada de 24 de Fevereiro de 2022 a Europa acordou ao som das armas russas. Particularmente os ucranianos, alguns não chegaram a acordar. As democracias ocidentais despertaram de um longo e confortável sono embalado pela paz garantida. Tinham passado 25 anos sem a latente guerra fria, quando a igualmente fria realidade se abateu, - o secular imperialismo russo não tinha morrido.
Das cinzas da URSS, surgiu um regime que apesar de ter características muito diferentes, apresenta paralelismos evidentes com a política Estalinista, repressiva e homicida. Vladimir Putin inspira-se em figuras como Catarina II e Pedro I o Grande, mas o espectro de Stalin é indisfarçável na sua conduta.
O povo russo teve uma oportunidade histórica depois de Novembro de 1991, para conduzir o seu país no caminho da democracia pluralista e do respeito pelos valores humanistas, - em vez disso, na nova Rússia, mais uma vez prevaleceu o autoritarismo e a forma déspota de governar. Ao que parece, trata-se de um povo que nasceu para ser conduzido no cabresto.
Depois da prova inequívoca de que Putin tem como objetivo restaurar o velho império russo, que não sendo soviético, em muito a ele se assemelha; depois de se constatar que o círculo político do ditador, não hesita em o seguir, ou pior que isso, poderá radicalizar aquilo que já extravasa o radicalismo, - é essencial que a Europa não tenha apenas despertado, mas que tome clara consciência de que da Federação Russa, nos próximos anos, nada de bom virá.
Esta é uma indesmentível realidade que proporcionará uma importantíssima oportunidade para os europeus construírem uma Europa renovada. Só o fortalecimento das instituições europeias permitirá construir um futuro de paz, de segurança e de prosperidade.
Gerhard Schröder vendeu-se à oligarquia russa; Angela Merkel acreditou que era possível através do estabelecimento de fortes relações comerciais, chamar ao palco das democracias ocidentais e ao crescimento comum europeu, a corrupta Federação Russa chefiada por um ex. agente do KGB; Emmanuel Macron, fraco e hesitante na política externa, - e que apesar da vitória nas últimas presidenciais, continua desacreditado numa sociedade francesa onde em certos setores da esquerda se optou por votar na candidata neonazi, em detrimento do presidente reeleito.
Para a renovação do projeto europeu é indispensável a existência de líderes fortes, líderes à altura deste enorme desafio. O Kremlin aposta exatamente no contrário
A estratégia, não só de Putin, mas igualmente daqueles que já se perfilam para o substituir, passa pela reconstrução do império russo, e para tal, é fulcral uma política de deterioração das instituições europeias. Tal política, está em curso neste preciso momento, e irá ter continuidade.
As muitas hesitações dos europeus, levam o Kremlin a renovar a sua estratégia. Até à ameaça da fome generalizada em África, são capazes de recorrer para alcançar as suas pretensões. Em cada hesitação europeia, renova-se a ofensiva russa.
Deseja-se que deste despertar europeu, nasça uma nova política de defesa conjunta, que torne a Europa cada vez menos dependente do poderio militar do EUA. É incontornável que os países europeus pertencentes à NATO reforcem as suas defesas militares, pois com este novo paradigma imposto pela Federação Russa, a segurança europeia está inegavelmente em risco.
Talvez daqui a umas centenas de anos a manutenção da paz seja possível sem a existência dos arsenais militares, - por enquanto, neste mundo que temos, infelizmente isso ainda não é possível.
Hoje, 27 maio de 2022, passaram 25 anos desde o final da guerra fria. Pois a mesma está de volta, e é bom que pragmaticamente se coloque de parte a inocência que tenta desmenti-lo.