23.05.22
A Federação Russa já fala em cessar fogo.
Depois de consolidar posições no Sul e de alcançar o domínio total da cidade de Mariopul, o Kremlin pela primeira vez neste conflito fala na possibilidade de um cessar fogo.
Com um avanço lento e penoso no Donbass, o comando militar russo tem consciência, que apesar da conquista territorial, a manutenção e controlo desse mesmo território é algo muito mais difícil de obter do que a própria conquista. Se em oito anos não conseguiram vergar a resistência ucraniana nesta região, imagine-se agora com o apoio que a mesma está a receber.
Com uma percentagem considerável da região do Donbass sob controlo e com o corredor aberto pelo Sul, esta é a altura certa para Moscovo propor um cessar fogo e negociar a cedência por parte dos líderes ucranianos, das regiões ocupadas.
Cessar fogo conseguido, território conquistado e reconhecido pela Ucrânia, - tempo para uma pausa estratégica, reorganização de forças e planeamento da próxima fase – ou seja, salvar da “tirania” moldava os desprotegidos pro russos da Transnístria. Mais uma “operação militar especial” que levaria à ocupação desta fatia de território moldavo e à consequente marcha para a Odessa Ucraniana. Assim se fecharia o cerco completo e se tornaria a Ucrânia num país continental, sem nenhum acesso ao mar.
Tudo isto acontecerá se aos ucranianos faltar a coragem, ou se EUA e Reino Unido desistirem de apoiar os esforços de guerra, - já que da parte dos restantes países europeus começam a surgir alguns sinais de hesitação. A França por exemplo, veria com bons olhos a existência de uma espécie de “Ucrânia de Vichy.
Se para consegui uma paz imediata, a Ucrânia cedesse os territórios ocupados, - mesmo que estes não fossem integrados na Federação Russa, passariam a constituir novas regiões autónomas que de uma forma ou de outra ficariam sob a influência russa. A própria Bielorrússia, sendo um estado soberano, é na prática um estado vassalo de Moscovo. Tal como foram todos aqueles que formaram a antiga cortina de ferro.
Nem a coragem vai faltar aos ucranianos e nem os EUA e o Reino Unido vão desistir de fornecer o devido apoio. Os primeiros manterão a coragem porque sabem que a sua independência e soberania dependem em grande parte disso mesmo. Os segundos vão continuar a suportar este conflito porque estão cientes que a consequência de não o fazerem, incorre numa derrota da Ucrânia, criando desse modo um precedente perigosíssimo para a paz e estabilidade na Europa, bem como desequilíbrios graves na geopolítica mundial.
Já não se trata apenas de uma guerra entre Ucrânia e Federação Russa. A guerra que Putin inventou, arrastou as potencias da NATO para o conflito. Putin, que não quer uma Ucrânia na NATO, mas que acabou por "convidar" a força da aliança para o território ucraniano. Não existem botas no terreno, mas há muito material de guerra ocidental. Até os militares ucranianos continuam e vão continuar a receber treino militar em países da NATO.
É imperativo que Putin sofra uma derrota total na Ucrânia. A paz duradoura na Europa depende disso. É imperativo que o regime russo seja enfraquecido. Se isso não acontecer, ele se revelará cada vez mais uma maior ameaça às democracias ocidentais. Não sabemos naquilo em que a Federação Russa se transformará depois da queda deste regime, mas sabemos com certeza naquilo em que se transformou depois de Vladimir Putin assumir o poder.