No último dia 11, Shireen Abu Akleh, jornalista da cadeia televisiva Al Jazeera foi assassinada no território de Jenin na Cisjordânia. A jornalista de dupla nacionalidade – palestiniana e norte-americana, foi atingida mortalmente enquanto fazia a cobertura de uma operação militar israelita na Cisjordânia.
A sua morte desencadeou reações em todo o mundo – as do costume – todos lamentam e condenam o ocorrido.
Nos media, li o seguinte trecho: “A sua morte ocorreu no contexto de uma onda de violência israelo-palestiniana atiçada por tensões num importante lugar sagrado de Jerusalém. Pelo menos 18 israelitas morreram em ataques palestinianos nas últimas semanas, enquanto mais de 30 palestinianos, a maioria dos quais envolvidos em ataques ou confrontos com forças israelitas, foram também mortos.”.
Esta é uma notícia que não necessitava de data. Neste eterno conflito, notícias deste teor são intemporais. Repetem-se assim como se repete o terrível drama.
A Terra de Israel é segunda a Bíblia judaica, a região que foi prometida por Deus aos descendentes de Abraão através do seu filho Isaac e aos descendentes hebreus do seu neto Jacó. Diz a tradição hebraica que esta é a terra prometida de Israel.
Esta promessa nasceu de uma recompensa divina à fidelidade de Abraão e do seu povo quando este adotou uma crença monoteísta e a concepção de uma nação escolhida por Deus. A promessa incluía a eliminação de outros povos semitas como os cananeus como castigo pelos seus pecados e a atribuição das suas terras aos hebreus, igualmente, eles, parte desse conjunto maior de povos semitas. Esta promessa tornou-se válida para a totalidade do povo judeu.
Descendo agora à terra – Com o final da primeira grande guerra mundial, a Liga das Nações atribuiu ao Reino Unido o chamado “Mandato Britânico da Palestina” com a responsabilidade deste estabelecer, "…tais condições políticas, administrativas e econômicas para garantir o estabelecimento do lar nacional judaico, tal como previsto no preâmbulo e no desenvolvimento de instituições autônomas, e também para a salvaguarda dos direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina, sem distinção de raça e de religião… ".
Dois anos depois do termo da segunda grande guerra, em 1947, a ONU elaborou um plano para a partição da região da Palestina, do qual nasceria um Estado judeu, um Estado árabe e onde a cidade de Jerusalém ficaria sob administração direta da organização.
Esta partição que foi aceite pelos líderes sionistas e rejeitada pelos líderes árabes deu origem a uma guerra civil onde se confrontaram judeus e árabes, enquanto isso, os britânicos retiravam, desresponsabilizando-se assim do suposto compromisso que assumiram de manter a ordem e a segurança na região. Séculos antes, nas mesmas redondezas, houve quem igualmente lavasse as mãos...
Em 1947 Israel declara a sua independência e na sequência os seus vizinhos árabes atacaram o recém formado país. Resumidamente, este conflito de um ano que ficou conhecido como a guerra da independência, resultou na fuga de centenas de milhares de árabes palestinianos e na invasão da Faixa de Gaza pelo Egito e da Cisjordânia pela Trans Jordânia dando origem à Jordânia. Por parte de Israel, houve a conquista de cerca de 75% do território que estava destinado ao povo palestiniano, bem como da parte ocidental de Jerusalém.
Nesta que é provavelmente a mais complexa história dos povos, ficará sempre muito por esmiuçar, muito por contar e certamente mais ainda por argumentar.
Desde este fatídico ano de 1947 que uma vergonha prevalece: O conflito Israel o árabe.
Sem santos, mas com muitos pecadores. Com diversos culpados e com inúmeros inocentes mortos. Gerações criadas no ódio. Infindáveis vinganças. Intermináveis injustiças. Infrutíferos esforços para que cesse o conflito. Estéreis acusações. Dedos apontados na busca dos responsáveis.
A promessa divina, a usurpação da terra alheia, a irresponsabilidade e a inépcia da comunidade internacional numa solução para o problema.
O Estado de Israel, desde a data da sua formação, tem vindo a violar as regras internacionais e o respeito pela autodeterminação do povo palestiniano. Este é talvez o único simples fato nesta tão complexa história.
Enormes barbaridades de parte a parte têm vindo a resultar desta realidade. Mais importante que encontrar os culpados, pois a história já disso se encarregou, seria encontrar as soluções que até agora os líderes mundiais não lograram alcançar.
Não existem soluções simplistas para problemas complexos. A formação de um Estado Palestino soberano, cujas fronteiras não podem ser as atuais, é incontornável. Forçosamente Israel terá que ceder parte dos territórios ocupados e um novo acordo de paz terá que ser realizado. Infelizmente nem palestinianos nem israelitas têm o bom senso nem a independência para o fazer. Essa terá que ser a responsabilidade da comunidade internacional.
As novas fronteiras terão que ser respeitadas e a cidade de Jerusalém deverá ficar definitivamente sob a total administração da ONU. A cidade não mais será israelita ou palestiniana. Haverá uma só cidade, uma só Jerusalém, património da humanidade, - policiada exclusivamente por tropas da ONU.
Tragicamente, dois povos, fruto de décadas de ódio e de conflito, têm-se comportado como bichos selvagens, e quando assim é, impõe-se uma nova arbitragem. Os desrespeitos a esta nova ordem deverão ter como resposta, as tão na moda, sanções. Que se sancione sem hesitações nem condescendências aqueles que prevaricarem, nem que isso signifique enfrentar o tão poderoso Israel.
Este assassinato da jornalista da cadeia televisiva Al Jazeera não deveria ficar como mais um rodapé desta triste história. Já são demasiados os rodapés onde ficaram escritas as mortes de tantos inocentes. Está na hora de pôr um fim a esta infindável vergonha e escrever não um rodapé, mas sim um novo título para o médio oriente. Uma palavra é suficiente: BASTA.