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A Política somos nós

A Política somos nós

11.04.22

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Vladimir Putin quer uma vitória no dia 9 de Maio. Resta saber que vitória é essa.  

Em 24 de Fevereiro procurava uma vitória que lhe colocaria a Ucrânia numa bandeja. 46 dias depois, a bandeja está vazia e a Ucrânia que agora enfrenta é uma nação que apesar de estar em boa parte destruída, se revela, fruto da agressão, muito mais unida do que estava num passado recente.  

Não conseguir derrotar o inimigo e ao mesmo tempo torná-lo ainda mais forte, configura aquilo que poderá ser a maior derrota para o agressor. 

Qual será o tipo de vitória que permitirá a Putin a sobrevivência como líder da Federação Russa? Seja ela qual for, o povo russo será sempre enganado, pois a mensagem para consumo interno, será sempre aquela que ilustrará uma grande vitória. A vitória sobre os nazis ucranianos e a vitória sobre o inimigo ocidental. 

Mais tarde ou mais cedo até o vendado cidadão russo, se irá interrogar porque é que ganharam mais dois vizinhos agora pertencentes à NATO - Suécia e Finlândia, logo ali ao lado de São. Petersburgo… questionará igualmente a razão porque as Repúblicas do Báltico e a Polónia reforçaram substancialmente os seus arsenais.  

Não sei se irão tomar conhecimento de que no país que os via como irmãos, reside agora um povo que os odeia. A culpa vai ser com certeza do inimigo ocidental que armou a Ucrânia. 

Para os dirigentes russos é muito fácil convencer os seus cidadãos de que na Ucrânia não se passa nada para além da libertação do povo ucraniano de todos os males – para isso basta apertar um pouco mais a venda, não vá o povo conseguir um fugaz vislumbre da verdade.  

Complicado vai ser explicar aos russos porque razão para eles, as visitas à Ucrânia serão altamente desaconselháveis nas próximas gerações. 

Seja qual for a vitória do exército russo nesta aventura, e se realmente ela se concretizar, o que Putin vender ao seu povo, será sempre uma mentira. A sua vantagem é que o povo pouco notará a diferença. A mentira tem um efeito dopante, e quando é repetida muitas vezes aos ouvidos dos dopados, parece verdade. 

O que Putin parece não ter ainda entendido é que a guerra que ele iniciou contra a Ucrânia em 2014 ainda não foi por ele vencida. Se nessa data ele enfrentou um exército mal preparado, uma opinião pública mundial distraída e líderes mundiais complacentes, e mesmo assim não conseguiu o domínio completo do leste da Ucrânia; agora, essa vai ser uma tarefa muito mais complicada. Agora, os ucranianos não vão largar mais as armas até expulsarem na totalidade o inimigo do seu território. 

Agora o Kremlin vai ter razão quando afirma que a NATO está a apertar o cerco. Porque será? Será que algum país da NATO invadiu a Federação Russa e como tal reforça agora militarmente os seus aliados com receio de uma retaliação russa? 

Quando em 2014 com a condescendência do mundo inteiro anexou a Crimeia, o erro estratégico de Putin foi não ter aproveitado o momento que lhe foi tão propício, para continuar a ofensiva ladeando o Mar de Azov rumo à conquista da agora cidade mártir, mas não conquistada, Mariupol. Aí, já em plena região de Donetsk, a conquista de todo o Donbass teria todas as condições para acontecer. Seria a continuação do passeio no parque que foi a Crimeia. 

Perdeu então essa oportunidade, como continua agora a perder no terreno, como continuará a perder em toda a linha a Federação Russa – isolada, descredibilizada, enfraquecida e agora, talvez como nunca esteve – rodeada de vizinhos ainda mais armados, ainda mais desconfiados e acima de tudo, decididos a reagir sem hesitações a qualquer tipo de agressão.  

Os passeios tranquilos do Sr. Putin por terras alheias terminaram. 

A Federação Russa nas próximas décadas só encontrará desconfiança e descrédito. E mesmo aqueles que por agora se fazem passar por aliados, irão logo que lhes aprouver, provar que estavam apenas a ser oportunistas. Putin, com a sua postura conseguiu convencer até os seus ditos aliados, que mesmo eles, devem manter a guarda perante a ameaça que ele representa. 

A história tem as suas ironias. Durante a segunda grande guerra mundial, a cidade russa de Leninegrado, esteve cercada pelos exércitos nazis durante cerca de 900 dias. Foi um dos mais longos cercos de todas as guerras e sem dúvida um dos mais destrutivos.  

A vitória final das forças russas só foi possível devido à heroica resistência dos soldados e da população na defesa da sua cidade. Nesses anos sombrios, os aliados tinham a perfeita noção que para vencer o terceiro reich, seria imprescindível ajudar militarmente o exército vermelho e dotar o regime soviético dos meios financeiros necessários para que este pudesse continuar a fazer frente a um inimigo comum.  

Foram os EUA que forneceram essa ajuda. Sem ela, Leninegrado teria certamente capitulado e o curso da guerra teria sido outro. 

Hoje, são os heroicos ucranianos que combatem e resistem a um exército que não é vermelho, mas que veio da mesma Rússia onde um dia existiu uma cidade mártir chamada Leninegrado.  

Hoje, a cidade sitiada chama-se Mariupol, e o povo cercado, mas não rendido, é outro – ironicamente, o país que agora ajuda, é o mesmo. 

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