02.04.22
Neste caso não podemos perdoar, nem nunca poderemos esquecer.
Nos últimos dias têm transparecido muito a ideia de que tem que se deixar uma porta de saída a Putin no desfecho deste conflito. Eu prefiro a ideia de lhe deixar uma janela, para ele saltar…
Existe a consciência entre analistas e comentadores de que se Putin não conseguir sair desta situação de cara lavada não levando qualquer tipo de vitória para casa, corremos o risco de ele próprio fazer escalar o conflito de uma forma extremamente ameaçadora para toda a Europa. É um ponto de vista defensável e de um pragmatismo incontestável. A imprevisibilidade de Putin justifica de forma indelével este raciocínio. As ameaças de uso de armas nucleares por parte da Federação Russa não são para encarar de uma forma leviana.
Porém, este facto não pode ser castrador nem da nossa consciência nem da nossa reação face os crimes cometidos pela Federação Russa neste conflito. Os países ocidentais têm a obrigação moral, cívica e estratégica de combater e punir este regime russo. Que não se façam mais negócios com a Rússia, que não sejam permitidos investimentos russos no ocidente, que os dirigentes russos sejam condenados pelo tribunal internacional e que sejam emitidos mandatos de captura para os mesmos.
Neste processo, serão com certeza, cometidas injustiças. Mas a única forma que levará à queda deste regime, excluindo obviamente uma confrontação militar, é fazer o povo russo sentir que na realidade não está de nenhuma forma protegido pelos seu governo – pelo contrário, é esse mesmo governo que atenta contra o seu bem estar, e tem que ser em última instância, afastado – aliás, nada de inédito da história do país.
Os crimes de guerra cometidos pelo exército russo são indesmentíveis. Não podem ficar de forma alguma impunes. Não podemos por conveniências geoestratégicas, fazer de conta que nada aconteceu. Não podemos permitir que o peso se aloje na nossa consciência fruto de considerações políticas. Vamos ter que fazer sacrifícios? Vamos. E como vamos responder às próximas gerações quando estas nos questionarem sobre esta história, que convenientemente e em face de uma mal maior deixámos impune uma carnificina?
Se Putin sair completamente vencedor deste conflito, o preço que pagaremos será, muito superior aquele que pagaremos por o não deixar impune. Putin é um mestre em identificar e tirar partido das fraquezas do adversário, para ele sempre foi uma forma de sobrevivência. Toda a estratégia dele foi montada sobre as nossas fraquezas - a dependência energética é o maior exemplo.
Se é inquestionável que se faça justiça sobre os crimes que estão a ser cometidos pela Federação Russa na Ucrânia, é imperativo que se trave um regime que ameaça a paz e a estabilidade mundial. Que se deixe aberta uma porta a Vladimir Putin – a mesma porta, que o povo russo irá fechar.