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A Política somos nós

A Política somos nós

25.03.22

Foram necessários 30 dias. Foi necessário o sacrifício de um povo. Foram necessárias milhares de vítimas inocentes. Foram necessários milhões de fugitivos, não apenas refugiados, mas sim fugitivos, da morte. Foi necessária a devastação de cidades inteiras. Foi necessária a resistência de muitos e a determinação e a coragem de um homem que não abandonou a sua terra e enfrentou o carrasco do seu povo. Foi necessária a ameaça da aniquilação nuclear.

Tudo isto foi necessário para acordar do sono tropego uma Europa que juntamente com os seus aliados descurou a guarda. O início do século XXI trazia consigo uma nova era de esperança, de tranquilidade e de prosperidade. O velho continente saboreava o fruto de décadas de paz e respirava de alívio com o fim da guerra fria que sempre carregou consigo os fantasmas de um novo conflito em larga escala. Os orçamentos eram direcionados para os projetos geradores de progresso e bem estar. A corrida às armas na Europa tinha desacelerado. O velho inimigo estava em mudança e com ele a Europa também.

A falsa sensação de segurança fez-nos crer que foi de repente que tudo mudou. Na verdade, tudo estava a mudar lentamente, de forma concertada, e por vezes tão evidente, que hoje nos interrogamos como foi possível não termos valorizado os acontecimentos que metodicamente iam desfilando perante os nossos olhos. Hoje, depois de termos despertado, tudo nos parece tão evidente que chegamos ao ponto de nos condenarmos por tanta leviandade.

A Rússia é um animal selvagem. Sempre foi. Não vale a pena tentar disfarçar. A história não o permite. Tiranos, multidões de servos, guerras sem fim, ambição desmedida, execuções em massa, extermínio de milhões, deportações, ocupações violentas, colonizações forçadas, perseguições, tortura e morte. Foi assim antes de Putin, e assim será depois de Putin. Até quando, ninguém sabe. Faz parte da natureza de um povo que idolatra os tiranos e rejubila com as suas conquistas.

Em pleno século XXI, houve um povo que atribuiu o maior indicie de popularidade a um líder depois de este lhes ter oferecido um novo pedaço de terra pertencente a um estado soberano. Foi o aplauso a um roubo. Esse povo chama-se russo. Esse líder chama-se Vladimir Putin. Esse pedaço de terra chama-se Crimeia e esse Estado soberano chama-se Ucrânia. A Crimeia sempre foi russa e sempre assim será. Foi com este grito que aclamaram o seu novo conquistador de início de século.

Não se trata de Russofobia ou de qualquer outro tipo de preconceito contra este povo. São os factos indesmentíveis; para o melhor ou para o pior; consciente ou não, a maioria da população russa aplaudiu a anexação da Crimeia. Foi apenas mais um capítulo de glória na história da grande mãe Rússia.

Se todos os russos soubessem verdadeiramente o que se passa na Ucrânia, com certeza que muitíssimos deles se revoltariam e manifestariam o seu desagrado. Por outro lado, com certeza que muitos outros aprovariam. Afinal de contas, a Ucrânia sempre foi russa, acreditam eles, porque não continuar a sê-lo? Resta saber se a percentagem de aprovação seria suficiente para legitimar a permanência de Putin no poder. E o que é certo, é que depois de Grosny, depois da Geórgia, depois de Alepo e depois de 30 dias de carnificina na Ucrânia, os sonâmbulos russos continuam a cantar a glória da Rússia e do seu herói Putin.

Qualquer animal selvagem, por mais domesticado que seja, mais tarde ou mais cedo deixará vir ao de cima os seus instintos naturais e atacará quem ingenuamente acreditar na sua condição de domesticado. A Rússia como estado, como nação e como viveiro de tiranos sem escrúpulos, continuará a ser por tempo indeterminado, uma ameaça à paz, à liberdade e à soberania daqueles que vacilarem perante a sua proximidade.

A melhor forma do mundo livre se defender desta ameaça, é simplesmente não alimentar qualquer forma de dependência de tal país. E não só da Rússia. Países como o Irão, como a Venezuela, como a Arábia Saudita e como a China, são exemplos de como devem ser evitadas a todo o custo qualquer tipo de dependências. Nem que mais não seja para que nos possamos defender de constrangimentos morais em relação às políticas adotadas por estes países.

Não são só as nossas necessidades energéticas que estão em jogo, são também os nossos valores. Que se parta definitivamente no caminho da autonomia energética. Que se invista o máximo na investigação e desenvolvimento de novas forma de produção de energia, como por exemplo a energia proveniente da fusão nuclear, que para além de ser uma energia limpa, proporcionará um alto grau de autonomia a quem a desenvolver e explorar.

Por vezes é preciso pagar o preço da destruição para podermos avançar para uma nova era de construção e de evolução. Lamentavelmente, neste momento quem está a pagar esse preço é o heroico povo ucraniano. Desde já, o mundo livre tem uma enorme dívida com este povo que ao fim de 30 dias de guerra sem quartel, resiste, riposta e todos os dias nos recorda o elevado preço do nosso bem mais precioso. A liberdade.

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