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A Política somos nós

A Política somos nós

23.03.22

Gostava de perguntar aos dirigentes do PCP se consideram que existe mesmo uma guerra na Ucrânia, ou pelo contrário, é apenas mais um jogo da PlayStation. E já agora se podiam meter uma cunha aos amigos lá do Kremlin, para ver se é possível a diplomacia de que tanto falam ...

 

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23.03.22


Uma guerra não desculpa outra; um crime não minimiza outro. Quem se sente incomodado por haver tanta condenação à tragédia na Ucrânia e apresenta o argumento de que outras guerras e outros crimes ocorrem pelo mundo, deve sem dúvida, condenar a existência dos mesmos. Faça-o todos os dias, em todas as horas, com toda a legitimidade e sem qualquer necessidade de envolver a guerra na Ucrânia.

Todos temos o direito de emocionalmente nos envolvermos mais ou menos com os problemas. A Arábia Saudita mandou executar 80 condenados. Chocante? Sem dúvida. Concordo? Definitivamente, não.

A situação na Ucrânia? Sinto-me emocionalmente mais envolvido? Com certeza que sim. Considero o problema mais preocupante? Deveras mais preocupante. Uma coisa desculpa a outra? Não. São simplesmente questões diferentes que exigem graus de preocupação diferentes, abordagens diferentes, sujeitas naturalmente a diferentes opiniões.

Para expressar a minha revolta e indignação sobre a situação na Ucrânia não sou de modo nenhum, moralmente obrigado a referir todas as outras desgraças do mundo. Quem considere que as mesmas não estão a ter a devida atenção e exposição, é livre e deve preencher esse vazio. Quem se manifesta em nome da justiça e em nome dos injustiçados é sempre bem-vindo. E se por acaso não referirem a Ucrânia, não precisarão sentir remorsos, pois há sempre quem o faça, em nome da mesma justiça e em nome de outros injustiçados.

Para além do acidente que a sra. do quarto andar teve ao subir a escada, que pela proximidade ganha sempre enorme relevância, temos a desgraça constante das milhares de crianças que morrem de fome e por falta de cuidados médicos, e como se não bastasse, temos um regime criminoso, sem escrúpulos e imprevisível ao ponto de um dia para o outro, desencadear um conflito nuclear. Não obstante de todos os problemas que afetam o nosso planeta, este, segundo a minha humilde opinião, concentra as nossas naturais preocupações e os nossos maiores receios.

Da Rússia fomos invadidos. Sim fomos, todos nós europeus. Da ponta mais ocidental da Europa a Leviv são 3.200 km. E isto da proximidade, quer queiram, quer não, tem o seu peso. Da Rússia vem a morte, a destruição e o sofrimento. Da Rússia vem a mentira, a manipulação e a arrogância. Da Rússia vem a ameaça suprema. O espetro de uma guerra nuclear paira sobre todos nós. E não se trata de querer dramatizar aquilo que por si só e que pela força das circunstancias já é um enorme drama. A ameaça é real. É bluff, dirão muitos. Quem pagará para ver, preguntarão outros.

Da nação que outrora dos deu Liev Tolstói, Fiodor Dostoiévski, Ilitch Tchaikovski, Iuri Gagarin e uma interminável lista de génios, agora, da Rússia, só recebemos ódio.

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