10.03.22
Na guerra da Ucrânia duas vertentes históricas se enfrentam.
De um lado o agressor – a Rússia imperial, impérios que se fizeram à custa de agressão e conquista. Líderes que interiorizaram a ideia de que o poder estava diretamente relacionado com a vastidão do seu território e com isso arrastaram gerações de um povo que se habituou a ser poderoso.
Abdicar de território significa perder poder, ganhar território significa aumentar o seu poder. Esta febre de conquista, e esta adição ao poder conduziram os líderes russos numa senda de conquista e subjugação. Pelos vistos a sede por mais, continua como sempre foi, insaciável.
Do outro lado temos a Ucrânia – A sua história relata-nos o oposto. O povo ucraniano apenas conseguiu saborear a autonomia e a soberania por breves momentos da sua existência. Foi sempre mais um povo conquistado do que um povo conquistador. Séculos de resistência ao invasor tendo sempre como objetivo a autodeterminação, a liberdade e a afirmação cultural, pilares daquilo que se pode afirmar ser uma identidade nacional. Apesar de os ucranianos terem surgido do mesmo estado medieval de onde surgiram também russos e Bielorrussos, ao longo dos séculos o povo ucraniano sempre desenvolveu um sentimento de identidade própria baseado na sua língua e na sua cultura.
A ideia de Putin de que russos e ucranianos são o mesmo povo está completamente errada, e ele sabe disso. São exatamente as caraterísticas próprias do povo ucraniano que os fazem vítimas deste conflito. Putin sabe que a histórica de rebeldia e resistência contra o invasor, e a vontade constante dos ucranianos de serem independentes, constitui uma afronta à Rússia. Rússia que Putin pretende que continue a ser como sempre foi, dominadora dos povos vizinhos. Mais território, mais poder.
Coincidentemente ou não, as regiões no norte da Ucrânia que neste momento estão sob domínio russo por força da invasão, são locais onde se concentram grandes reservas naturais de gás. Um povo irmão torna-se ainda mais irmão quando é rico.
O convite por parte do Kremlin aos refugiados para virem para território russo, pode parecer apenas cinismo, mas não é. As mulheres serão feitas servas e as crianças serão alvo de uma campanha de lavagem celebrar e de dogmatização por parte das autoridades no sentido de as tornar elas próprias futuras apoiantes do regime que as agrediu. Da conquista também faz parte o domínio das mentes.
Esta é a guerra de Putin. Ele não é como Donal Trump lhe chamou, um génio militar, nem é tão pouco um chefe de estado, ele é simplesmente o carniceiro que sempre foi. Desde o dia em que bateu às portas da KGB para se alistar como espião, até aos dias do massacre de Alepo na Síria.
E o massacre vai continuar. Se Volodymyr Zelensky honrar a fibra dos seus antepassados, a batalha de Kiev vai ser até ao último homem. Os que sobrarem, porque sempre sobra alguém, vão garantir que a história milenar do povo ucraniano ainda não terminou.