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A Política somos nós

A Política somos nós

30.03.22

Emmanuel Macron falou com Putin. Nem sequer conseguiu o estabelecimento de um corredor humanitário em Mariupol. Mais nulo era impossível. Foi informado de que tal só seria possível se os ucranianos que resistem dentro da cidade, depusessem as armas. A conclusão é óbvia: Enquanto não houver rendição, os civis vão continuar a ser massacrados, a morrer de fome e à sede, encurralados que nem animais dentro de caves.

É com este tipo de indivíduo, (a palavra gente não é adequada), que o ocidente na pessoa do presidente francês, está a estabelecer contatos para alcançar a paz.

A mentira e a falsidade são próprias dos bandidos. Foi por isso que Putin mentiu quando afirmou que apesar de ter milhares de tropas concentradas na fronteira com a Ucrânia, não iria invadir o país; mentiu quando afirmou que o objetivo da sua “operação militar especial”, era para impor o compromisso à Ucrânia da não adesão à NATO; se tal fosse verdade, a guerra já tinha acabado à duas semanas, pois o presidente Zelensky já concordou com o mesmo; mentiu quando falou numa “desnazificação” da Ucrânia – esse é um assunto que já nem é abordado nas reuniões entre os dois países – Ou os russos já mataram todos os nazis em solo ucraniano, ou então o argumento era claramente falso.

Deve ter sido por entender perfeitamente que conversas com mentirosos compulsivos só resultam em enganos e consequentemente em perda de tempo, que o Presidente Biden se referiu a Putin como um sínico sem nenhuma credibilidade. Biden fez aquilo que os líderes europeus já deviam ter feito há muito tempo: Colocar Putin no lugar onde só existe falsidade, irresponsabilidade e descrédito. E foi exatamente por ter isto em consideração, que o presidente americano afirmou que tal indivíduo não devia ocupar o lugar que ocupa.

Os líderes europeus ficaram muito incomodados com tal afirmação. O presidente Macron quase que ligou para o Kremlin a pedir desculpa pela atitude de Biden. Talvez ache aconselhável que à frente dos destinos de uma nação como a Federação Russa, detentora do maior arsenal nuclear do planeta, esteja um assassino sem escrúpulos que se acha no direito de martirizar um povo inocente, e ainda ameace a comunidade internacional com o uso de armas nucleares.

Não são só os russos que merecem um melhor presidente, o mundo inteiro precisa urgentemente que este seja afastado definitivamente do seu cargo. As grandes ameaças devem ser encaradas como grandes problemas e os grandes problemas precisam de eficazes soluções. Se o governo da Federação Russa incomodasse unicamente o seu povo, seria certamente um problema a ser resolvido por esse mesmo povo. O problema é que o governo em causa, viola todas as regras do direito internacional, e como tal, esse é um problema que exige séria abordagem de todos os países.

Se estas negociações tiverem êxito nos moldes em que se apresentam, Putin sairá como perfeito derrotado. Nessa media, considero altamente improvável que tal acordo seja alcançado.

O estatuto da Crimeia fica inalterado face ao existente, será um tema para debater nos próximos 15 anos. Putin não fez o que fez para deixar o assunto da Crimeia para daqui a 15 anos.

Em relação à região do Donbass, o governo ucraniano não abdica da soberania dos territórios e exige um acordo de compromisso por parte de vários países em como a segurança e soberania da Ucrânia seja garantida pelos signatários. Considerando que a maioria destes países fazem parte da NATO, seria como ter uma “mini NATO” a defender a Ucrânia de futuras agressões externas. Se Putin não quer a Ucrânia na NATO, naturalmente não vai admitir intervenções de países da NATO em solo ucraniano. E a região do Donbass é para ser anexada assim como foi a Crimeia, bem como garantir uma ligação territorial via Mariupol.

Nestes termos, Putin só alcançaria o compromisso por parte da Ucrânia de não vir a pertencer à NATO, e como tal ser um país neutro, sem armas nucleares e sem a presença de bases estrangeiras no seu território. É muito pouco para quem considera que o país Ucrânia não existe e que o povo ucraniano é apenas parte do povo russo.

Depois de levar 130.000 homens para a guerra, depois das enormes perdas humanas e materiais e de ter isolado completamente o seu país, Putin perderia totalmente a face perante o povo russo e perante as elites da Federação Russa. Era o seu fim político. Para ele está fora de questão. E para verbalizar esta posição, atenda-se à resposta por ele dada a uma mensagem do presidente Zelensky: “Vamos esmagá-los”.

Enquanto as conversas continuam, o grande perdedor é sem dúvida o povo ucraniano. Qualquer que seja o acordo alcançado, não ressuscitará os mortos, não apagará os traumas e nunca fará esquecer o sofrimento de milhões de inocentes.

Que outro acordo se estabeleça, aquele onde o ocidente se comprometa em obrigar a Federação Russa a pagar muito caro pela barbaridade que depois de 35 dias ainda continua a cometer.

28.03.22

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Emmanuel Macron terá com certeza a melhor das intenções na mediação do conflito da Ucrânia. Pena que esteja a perder o seu tempo. A diplomacia só é exequível quando dos dois lados da negociação existem dois diplomatas. Neste caso, de um lado temos um diplomata, do outro lado temo um criminoso de guerra, um mentiroso, um ser sem qualquer tipo de escrúpulos.

Putin nunca teve nem tem a mínima intenção de negociar absolutamente nada. O seu único objetivo é anexar o máximo de território possível à Ucrânia, inclusivamente todo e qualquer acesso ao mar de Azov e ao mar Negro, privando assim a Ucrânia dos seus portos. Enquanto não conseguir alcançar esta meta, não vai parar a ofensiva, nem vai parar de fazer de tontos, os que com ele procurarem negociar seja aquilo que for.

Aquilo que não conseguir conquistar, vai destruir. Assim, quanto mais enfraquecida ficar o que restar da Ucrânia, menos resistência oferecerá na próxima invasão, que terá como objetivo anexar o que restou. Para Putin, nem a Ucrânia, nem o povo ucraniano existem. Só existe um território que na mente de Putin sempre fez parte da Rússia e tem forçosamente que continuar a fazer.

É compreensível que seja difícil para Emmanuel Macron assimilar esta ideia, de tão absurda que é. O que não é compreensível é o presidente francês continuar a perder o seu tempo.

Se ele pretende um cessar fogo imediato, seria melhor tentar convencer o presidente Zelensky a depor as armas. Este pelo menos tem muito mais a perder do que Putin. Mais vítimas civis, mas baixas militares e mais destruição. Por outro lado, Putin não tem nada a perder.

Quanto maior for a destruição no terreno melhor, quantos mais ucranianos saírem da Ucrânia melhor e quantas mais tentativas de diálogo por parte do ocidente, melhor. Nada mais satisfatório para um tirano violento e narcisista do que a possibilidade de esmagar os seus opositores e ainda poder contar com a suplica de quem procura o apaziguamento.

Nem Putin vai parar tão depressa, nem Zelensky se vai render a troco de entregar a sua terra de mão beijada, algo que não é passível de crítica por parte de ninguém; afinal de contas, ele não faz mais do que defender o seu país e honrar aqueles que já tombaram da defesa do mesmo.

Como tal, seria melhor que o Sr. Presidente Macron encontrasse formas de ajudar militarmente a Ucrânia para que esta não se veja humilhada numa guerra que trava por ela própria, mas também em nome de tudo aquilo que o mundo livre representa.

Ou ajudamos fortemente os ucranianos a se defenderem e a repelirem o inimigo, ou entregamos a Ucrânia numa bandeja de prata à Federação Russa e com isso continuaremos passivamente a assistir ao avanço indiscriminado por terras europeias, do novo imperialismo russo.

27.03.22

Os líderes russos e os seus poderosos apoiantes, vivem obcecados com a ameaça do ocidente. Afirmam que se sentem ameaçados pela influência política, económica e cultural do ocidente. Contudo, eu iria jurar que este magnifico exemplar de cultura económica ocidental não foi construído em nenhum estaleiro russo, nem tão pouco pertence a nenhum ocidental ameaçador.

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27.03.22

 

Como não sou líder politico, não tenho nenhum constrangimento em afirmar: O regime de Moscovo tem que cair, Não só porque é responsável pela repressão, perseguição, tortura e morte do povo russo que lhe é opositor; mas também porque representa uma série e constante ameaça à paz no mundo.

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27.03.22

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Os líderes russos e os seus poderosos apoiantes, vivem obcecados com a ameaça do ocidente. Afirmam que se sentem ameaçados pela influência política, económica e cultural do ocidente. Contudo, eu iria jurar que este magnifico exemplar de cultura económica ocidental não foi construído em nenhum estaleiro russo, nem tão pouco pertence a nenhum ocidental ameaçador.

25.03.22

Foram necessários 30 dias. Foi necessário o sacrifício de um povo. Foram necessárias milhares de vítimas inocentes. Foram necessários milhões de fugitivos, não apenas refugiados, mas sim fugitivos, da morte. Foi necessária a devastação de cidades inteiras. Foi necessária a resistência de muitos e a determinação e a coragem de um homem que não abandonou a sua terra e enfrentou o carrasco do seu povo. Foi necessária a ameaça da aniquilação nuclear.

Tudo isto foi necessário para acordar do sono tropego uma Europa que juntamente com os seus aliados descurou a guarda. O início do século XXI trazia consigo uma nova era de esperança, de tranquilidade e de prosperidade. O velho continente saboreava o fruto de décadas de paz e respirava de alívio com o fim da guerra fria que sempre carregou consigo os fantasmas de um novo conflito em larga escala. Os orçamentos eram direcionados para os projetos geradores de progresso e bem estar. A corrida às armas na Europa tinha desacelerado. O velho inimigo estava em mudança e com ele a Europa também.

A falsa sensação de segurança fez-nos crer que foi de repente que tudo mudou. Na verdade, tudo estava a mudar lentamente, de forma concertada, e por vezes tão evidente, que hoje nos interrogamos como foi possível não termos valorizado os acontecimentos que metodicamente iam desfilando perante os nossos olhos. Hoje, depois de termos despertado, tudo nos parece tão evidente que chegamos ao ponto de nos condenarmos por tanta leviandade.

A Rússia é um animal selvagem. Sempre foi. Não vale a pena tentar disfarçar. A história não o permite. Tiranos, multidões de servos, guerras sem fim, ambição desmedida, execuções em massa, extermínio de milhões, deportações, ocupações violentas, colonizações forçadas, perseguições, tortura e morte. Foi assim antes de Putin, e assim será depois de Putin. Até quando, ninguém sabe. Faz parte da natureza de um povo que idolatra os tiranos e rejubila com as suas conquistas.

Em pleno século XXI, houve um povo que atribuiu o maior indicie de popularidade a um líder depois de este lhes ter oferecido um novo pedaço de terra pertencente a um estado soberano. Foi o aplauso a um roubo. Esse povo chama-se russo. Esse líder chama-se Vladimir Putin. Esse pedaço de terra chama-se Crimeia e esse Estado soberano chama-se Ucrânia. A Crimeia sempre foi russa e sempre assim será. Foi com este grito que aclamaram o seu novo conquistador de início de século.

Não se trata de Russofobia ou de qualquer outro tipo de preconceito contra este povo. São os factos indesmentíveis; para o melhor ou para o pior; consciente ou não, a maioria da população russa aplaudiu a anexação da Crimeia. Foi apenas mais um capítulo de glória na história da grande mãe Rússia.

Se todos os russos soubessem verdadeiramente o que se passa na Ucrânia, com certeza que muitíssimos deles se revoltariam e manifestariam o seu desagrado. Por outro lado, com certeza que muitos outros aprovariam. Afinal de contas, a Ucrânia sempre foi russa, acreditam eles, porque não continuar a sê-lo? Resta saber se a percentagem de aprovação seria suficiente para legitimar a permanência de Putin no poder. E o que é certo, é que depois de Grosny, depois da Geórgia, depois de Alepo e depois de 30 dias de carnificina na Ucrânia, os sonâmbulos russos continuam a cantar a glória da Rússia e do seu herói Putin.

Qualquer animal selvagem, por mais domesticado que seja, mais tarde ou mais cedo deixará vir ao de cima os seus instintos naturais e atacará quem ingenuamente acreditar na sua condição de domesticado. A Rússia como estado, como nação e como viveiro de tiranos sem escrúpulos, continuará a ser por tempo indeterminado, uma ameaça à paz, à liberdade e à soberania daqueles que vacilarem perante a sua proximidade.

A melhor forma do mundo livre se defender desta ameaça, é simplesmente não alimentar qualquer forma de dependência de tal país. E não só da Rússia. Países como o Irão, como a Venezuela, como a Arábia Saudita e como a China, são exemplos de como devem ser evitadas a todo o custo qualquer tipo de dependências. Nem que mais não seja para que nos possamos defender de constrangimentos morais em relação às políticas adotadas por estes países.

Não são só as nossas necessidades energéticas que estão em jogo, são também os nossos valores. Que se parta definitivamente no caminho da autonomia energética. Que se invista o máximo na investigação e desenvolvimento de novas forma de produção de energia, como por exemplo a energia proveniente da fusão nuclear, que para além de ser uma energia limpa, proporcionará um alto grau de autonomia a quem a desenvolver e explorar.

Por vezes é preciso pagar o preço da destruição para podermos avançar para uma nova era de construção e de evolução. Lamentavelmente, neste momento quem está a pagar esse preço é o heroico povo ucraniano. Desde já, o mundo livre tem uma enorme dívida com este povo que ao fim de 30 dias de guerra sem quartel, resiste, riposta e todos os dias nos recorda o elevado preço do nosso bem mais precioso. A liberdade.

23.03.22

Gostava de perguntar aos dirigentes do PCP se consideram que existe mesmo uma guerra na Ucrânia, ou pelo contrário, é apenas mais um jogo da PlayStation. E já agora se podiam meter uma cunha aos amigos lá do Kremlin, para ver se é possível a diplomacia de que tanto falam ...

 

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23.03.22


Uma guerra não desculpa outra; um crime não minimiza outro. Quem se sente incomodado por haver tanta condenação à tragédia na Ucrânia e apresenta o argumento de que outras guerras e outros crimes ocorrem pelo mundo, deve sem dúvida, condenar a existência dos mesmos. Faça-o todos os dias, em todas as horas, com toda a legitimidade e sem qualquer necessidade de envolver a guerra na Ucrânia.

Todos temos o direito de emocionalmente nos envolvermos mais ou menos com os problemas. A Arábia Saudita mandou executar 80 condenados. Chocante? Sem dúvida. Concordo? Definitivamente, não.

A situação na Ucrânia? Sinto-me emocionalmente mais envolvido? Com certeza que sim. Considero o problema mais preocupante? Deveras mais preocupante. Uma coisa desculpa a outra? Não. São simplesmente questões diferentes que exigem graus de preocupação diferentes, abordagens diferentes, sujeitas naturalmente a diferentes opiniões.

Para expressar a minha revolta e indignação sobre a situação na Ucrânia não sou de modo nenhum, moralmente obrigado a referir todas as outras desgraças do mundo. Quem considere que as mesmas não estão a ter a devida atenção e exposição, é livre e deve preencher esse vazio. Quem se manifesta em nome da justiça e em nome dos injustiçados é sempre bem-vindo. E se por acaso não referirem a Ucrânia, não precisarão sentir remorsos, pois há sempre quem o faça, em nome da mesma justiça e em nome de outros injustiçados.

Para além do acidente que a sra. do quarto andar teve ao subir a escada, que pela proximidade ganha sempre enorme relevância, temos a desgraça constante das milhares de crianças que morrem de fome e por falta de cuidados médicos, e como se não bastasse, temos um regime criminoso, sem escrúpulos e imprevisível ao ponto de um dia para o outro, desencadear um conflito nuclear. Não obstante de todos os problemas que afetam o nosso planeta, este, segundo a minha humilde opinião, concentra as nossas naturais preocupações e os nossos maiores receios.

Da Rússia fomos invadidos. Sim fomos, todos nós europeus. Da ponta mais ocidental da Europa a Leviv são 3.200 km. E isto da proximidade, quer queiram, quer não, tem o seu peso. Da Rússia vem a morte, a destruição e o sofrimento. Da Rússia vem a mentira, a manipulação e a arrogância. Da Rússia vem a ameaça suprema. O espetro de uma guerra nuclear paira sobre todos nós. E não se trata de querer dramatizar aquilo que por si só e que pela força das circunstancias já é um enorme drama. A ameaça é real. É bluff, dirão muitos. Quem pagará para ver, preguntarão outros.

Da nação que outrora dos deu Liev Tolstói, Fiodor Dostoiévski, Ilitch Tchaikovski, Iuri Gagarin e uma interminável lista de génios, agora, da Rússia, só recebemos ódio.

22.03.22

Sancionem, isolem, condenem, incriminem até à exaustão. Não basta que Putin que caia. É essencial que caia o regime. É preciso que o povo russo entenda que este tipo de regimes perniciosos não têm espaço nem margem de sobrevivência na Europa.

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21.03.22

Considero não ser prematuro afirmar que a nova guerra fria já começou, não só pelos atos desencadeados pela Federação Russa na pessoa do seu líder, mas pela transformação que a sociedade russa viveu nas últimas duas décadas.

A antiga URSS, União das repúblicas socialistas soviéticas era um regime baseado num conceito ideológico onde o estado era controlado por um sistema de partido único cuja hierarquia detinha o controlo absoluto sobre a sociedade. As regras eram claras, indiscutíveis e impostas unilateralmente pelo politburo do partido. Era um regime ditatorial, opressor, mas apesar de tudo previsível. Foi a mais longa ditadura da história da Europa.

O seu colapso, três anos depois da queda do muro de Berlim, deveu-se em grande parte a uma enorme crise financeira com o processo de transição acelerada e mal sucedida de uma economia planificada para uma economia de mercado. Entretanto, a queda no preço das commodities agrícolas, minerais e energéticas (petróleo, gás natural) a partir de 1984-1985, deixou claro os limites daquele modelo. O desgaste provocado por dez anos de guerra no Afeganistão, ajudou ao colapso final da URSS.

Com a queda do velho império soviético surgiu a Federação Russa. A crise leva à eleição de Vladimir Putin, que inicia um processo de reorganização do Estado russo.

Sob o governo de Putin, a economia russa começou a recuperar, mantendo um ritmo de crescimento económico muito acelerado. Só que esta era uma nova filosofia de governo. O que era um estado ideológico com regras muito claras, passou a ser um estado mercantilista e corrupto onde a ausência de regras era notória. Onde havia um partido com uma hierarquia colegial, passou a haver um sistema autocrata e cleptocrata centrado numa personagem, Vladimir Putin.

Se a guerra fria tinha terminado com a queda do murro de Berlim, uma outra estava a germinar na nova Rússia de Vladimir Putin.

A geração do pós-guerra teve o privilégio de viver em paz coexistindo com a guerra fria entre os regimes ocidentais e o regime soviético. Qual será o futuro da geração da nova guerra fria?

O medo visceral e doentio que Putin e os seus apoiantes têm do ocidente, fez acordar as consciências daqueles que saboreavam descontraidamente a descompressão obtida com o final da guerra fria. Com a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, toda a política de defesa da Europa está a ser equacionada, não só com o instrumento NATO, mas também com UE.

A UE que era até agora uma organização no seu essencial, económica e social, vai adquirir uma forte componente de defesa militar. Se a preocupação de Putin era a NATO, agora ele vai ter mais uma. Todos os estados membros da UE vão reforçar os seus orçamentos militares. Nos próximos anos a Rússia vai ter um conjunto de armas apontadas como nunca teve.

Independentemente do tempo que Putin ocupar o poder, esta política de desconfiança e de prevenção armada por parte dos países ocidentais, vai continuar por largos anos. E a razão é simples: O estado russo é dominado por um conjunto de pessoas que fazem parte dos serviços secretos, ou que no mínimo mantêm estreitas relações com os mesmos. Não se trata de uma entidade que presta um serviço ao estado, é um estado que presta serviços à entidade. E Putin, ex-chefe da FSB, é o homem certo neste atual contexto.

Países como a Finlândia, Suécia e Moldava, irão se sentir ameaçados por este novo ímpeto imperialista da Rússia, e como tal, vão olhar para uma integração na NATO, como uma garantia de segurança. Por outro lado, a Rússia interpretará isso como uma ameaça. Este será também um dilema da nova guerra fria. Infelizmente a geração dos nossos filhos já se encontra em guerra.

21.03.22

Esta guerra começou em 2014 com a anexação da península da Crimeia, território da Ucrânia, por parte da Federação Russa. Em resultado disso, o Presidente Vladimir Putin, obteve o maior índice de aprovação por parte do povo russo. Isto significa que Putin recebeu da parte do seu povo, um prémio político por ter roubado parte de um território a um país soberano.

Isto aconteceu na Europa em pleno século XXI, e o povo russo aplaudiu. A comunidade internacional manifestou o seu desagrado, condenou e aplicou algumas sanções à Federação Russa. O resultado foi nulo. A Ucrânia tinha acabado de ser espoliada de uma região do seu país e pouco ou nada podia fazer em relação a isso.

A população russa aplaudiu e deu força ao seu presidente. Afinal de contas a generalidade da população sentia que a Crimeia sempre tinha sido russa e forçosamente continuaria a sê-lo. O povo russo venera e glorifica os seus líderes vitoriosos, e agora tinha um que correspondia exatamente ao padrão russo.

Putin sentiu essa força e avançou para a região do Donbass. Agora era a leste que a soberania da Ucrânia era novamente ameaçada. Desta vez a reação ucraniana foi mais forte e o conflito na região arrastou-se até ao dia 24 de fevereiro de 2022. Por variadas razões, Putin fortalecido e convencido do timing certo, lançou então uma invasão em larga escala no restante território ucraniano.

Tal como na Crimeia, Putin saiu reforçado politicamente; nesta nova guerra, (ou continuação da mesma), Putin não pode agora sair fragilizado aos olhos do povo russo. Os russos desprezam líderes fracos e perdedores, estão habituados exatamente ao contrário. O cenário de negociação em que os ucranianos, cedam apenas os territórios correspondentes às auto-proclamadas repúblicas independentes de Donetsk e Lugansk, está completamente posto de parte por parte do Kremlin.

Como é que Putin iria justificar perante o seu povo que depois de juntar 130.000 homens para invadir a Ucrânia, muito para além do Donbass, para já não falar das baixas sofridas, (mesmo sabendo os russos nem da missa metade), como é que depois de tudo isto, o prémio seria apenas duas pequenas porções de território, sem qualquer tipo relevante de riqueza ou de interesse estratégico?

Se isto acontecesse, Putin seria visto como um perdedor, como um falhado, como alguém que não tem condições para dirigir a grande mãe Rússia. Seria o fim político de Vladimir Putin. É por esta simples, mas tão importante razão, que o cessar fogo só será obtido quando uma parcela significativamente grande do território ucraniano estiver nas mãos russas e com o respetivo acordo de compromisso assinado por ambas as partes.

Mesmo se metade do território ucraniano for conquistado, a Ucrânia continuará a ser um grande país e os argumentos apresentados pelo Kremlin para justificar esta invasão, virão a ser os mesmos para justificar a conquista do que restar da Ucrânia. Mais tarde ou mais cedo. Se ninguém o deter, Putin só parará quando toda a Ucrânia voltar a fazer parte do império russo. A questão que se porá a seguir será esta: Será que ele vai parar aí?

20.03.22

Não houve cristão, católico, protestante ou ortodoxo; nem judeu nem muçulmano; nem tão pouco, o ateu, que tenha conseguido conter a emoção com a chegada de Nossa Senhora de Fátima à igreja cristão ortodoxa na cidade de Lviv na Ucrânia. Enquanto não sessam os horrores da guerra, acalentam-se os corações dos que sofrem.

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20.03.22

Cosmonautas russos chegam à estação espacial internacional vestidos com as cores da Ucrânia.

Normalmente a intelectualidade e a grandeza de espírito andam de mãos dadas com os princípios civilizacionais e humanos.

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20.03.22

A porta-voz do Ministério dos negócios estrangeiros russa, Maria Zakharova, a mesma que afirmou que o exército russo nunca bombardeou civis, e que toda gente sabe disso, declarou: "Nenhuma sanção, nenhuma ameaça, nenhuma chantagem, quer sejam os Estados Unidos da América ou os seus satélites, que se imaginam como uma espécie de senhores coletivos do mundo, mudará a nossa posição", disse Zakharova num encontro com a comunicação social.

Na primeira afirmação, com certeza que se estava a referir em exclusivo ao povo russo. Realmente só eles é que estão convencidos que o exército russo nunca bombardeou civis. Estão convencidos disso, e também de todas as outras falsidades que ouvem da máquina de propaganda do seu governo, que por eles foi eleito por larga maioria.

Em relação à segunda afirmação, a sra. Zakharova espelha bem a arrogância russa. Nada nem ninguém poderá fazer frente ao povo russo, e nada nem ninguém poderá mudar a sua posição. Depois de tantos séculos de servidão e vassalagem a uma elite de tiranos e sanguinários, este povo já devia ter aprendido um pouco o significado da palavra humildade.

A história do país desta senhora prova o quanto frágil tem sido o seu povo. Humilhados e renegados a uma prole de servos sem quaisquer direitos por parte de dinastias de czares; vítimas da mais longa ditadura da Europa, onde foram massacrados por um regime totalitário e opressor, que assassinou o seu próprio povo, mais do que qualquer outro.

Só não sucumbiram ao inimigo nazi devido à providencial ajuda financeira e militar do “inimigo americano”. Fantoches e sonâmbulos amordaçados por uma corte de corruptos sem escrúpulos que tomaram de assalto a economia russa, com o único objectivo de enriquecimento próprio, em detrimento do bem-estar geral da população. E agora com esta agressão vil a um povo soberano, tornaram-se em função de tal ato, eles próprios o alvo de praticamente toda a toda comunidade internacional.

Os “senhores coletivos do mundo” de que fala, são na verdade, todos os povos que rejeitam em absoluto o “mundo” onde esta senhora vive. Inclusive aqueles que já estiveram debaixo do jugo do “mundo” que ela defende, e que jamais vão querer estar sujeitos a tal novamente. São povos que não foram obrigados a abraçar os valores ocidentais, eles vieram de livre vontade, e só não o fizeram antes, porque o “mundo” dela era muito mais poderoso do que é hoje.

Do mesmo modo respondemos nós sra. Zakharova: Não haverá Ivan o terrível, nem Pedro o Grande, nem Catarina II, nem Josef Stalin, nem tão pouco o pequeno Vladimir Putin, que nos submeta à condição de servos amordaçados. Nós não somos russos, não nos prestamos a esse papel. O nosso “mundo”, o ocidental, não será com certeza perfeito, longe disso, mas é com certeza, infinitamente melhor do que o seu. E acredite, dele, só queremos distância.

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